VIOLÊNCIA Sexual e Infecções Sexualmente Transmissíveis: Retrospectiva de 10 Anos em Serviço de Referência em Vitória, Espírito Santo, Brasil
Nome: CHIARA MUSSO RIBEIRO DE OLIVEIRA SOUZA
Tipo: Tese de doutorado
Data de publicação: 30/09/2022
Orientador:
Nome | Papel |
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ANGELICA ESPINOSA BARBOSA MIRANDA | Orientador |
Banca:
Nome | Papel |
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ANGELICA ESPINOSA BARBOSA MIRANDA | Orientador |
LILIANA CRUZ SPANO | Examinador Interno |
MARIA LUIZA BEZERRA DE MENEZES | Examinador Externo |
NEIDE APARECIDA TOSATO BOLDRINI | Examinador Interno |
XIMENA PAMELA DÍAZ BERMÚDEZ | Examinador Externo |
Resumo: Introdução: Infecções sexualmente transmissíveis (IST) e gestação podem ser consequências da violência sexual. No Brasil, cerca de 50% das mulheres em situação de violência sexual não fazem profilaxia de IST ou contracepção de emergência. Objetivos: Descrever o perfil clínico-epidemiológico, a frequência de procedimentos realizados, a frequência de IST, gravidez e aborto legal em mulheres adolescentes e adultas em situação de violência sexual assistidas em serviço de referência em assistência a casos de violência sexual (PAVÍVIS/HUCAM), em Vitória, ES, entre 2010 e 2019. Pacientes e métodos: Estudo de coorte retrospectiva descrevendo o perfil sociodemográfico e epidemiológico e as frequências de procedimentos realizados, IST, gravidez e aborto legal em 915 mulheres assistidas em serviço referência em assistência a casos de violência sexual em Vitória, ES, Brasil, entre 2010 e 2019. Resultados: Cerca de 90% (842/915) eram residentes na Região Metropolitana, 80,83% (733/915) eram pardas ou brancas, 42,40% (388/915) eram adolescentes (entre 12 e 17 anos), 80,44% (736/915) eram solteiras, a média de foi de 1,8 filhos (±1 DP). Cerca de um terço (313/915) não tinha tido relação sexual prévia, 1,60% (10/653) estavam grávidas. Predominou o estupro em 92% (841/915), por um agressor, em 51,48% (471/915) conhecido ou parente, predominando um conhecido, seguido do padrasto ou pai. Casos recorrentes foram 24% (227/915). Procedimentos realizados: 42,62% (390/915) foram atendidas em até 72 horas; profilaxia para IST 43,36% (392/904), contracepção de emergência 38,60% (349/904), coleta de sangue 71,57% (647/904). Prevalências: sífilis 0,32% (2/653), hepatite B 0,16% (1/653), gestação 1,60% (10/653). Incidências: sífilis 1,10% (7/633), hepatite B 0,78% (5/633), hepatite C 0,64% (4/633), gestação 27,17% (172/633). Não houve casos de HIV. Os colpocitológicos apresentaram tricomoníase 1,9% (2/108), lesões citológicas HPV induzidas 4,7% (5/108) e vaginose bacteriana 20% (21/108). Ocorreram 129 abortos legais. Conclusões: Os aspectos sociodemográficos e as características das agressões foram semelhantes aos descritos em dados de base nacional brasileiros, inclusive o número expressivo de adolescentes, o que levanta reflexões sobre a sexualização precoce, a cultura do estupro e invisibilidade de mulheres adultas vítimas de violência sexual. A profilaxia de IST e a contracepção de emergência foram realizadas em cerca de 40% da amostra. As frequências de IST foram baixas e associadas a três ou mais agressores, número de parceiros sexuais e idade da coitarca. A incidência de gravidez surpreendentemente foi alta, associada a uso de arma de fogo e protegida pela profilaxia de IST. A frequência de aborto legal foi alta, maior que a de dados nacionais. Políticas públicas garantidoras de acesso aos direitos em saúde sexual e reprodutiva, à educação e estratégias para melhorar a qualidade na assistência a mulheres em situação de violência sexual poderão diminuir vulnerabilidade às IST e à gestação indesejada.